Com uma carreira de 30 anos nos ralis, o Ford Escort, que foi lançado em 1967, foi um dos carros que o publico mais apreciava ver nas classificativas dos ralis. Na sua fase inicial o Ford Escort foi equipado com um motor Lotus Twin-Cam (duas árvores de cames); daí a designação de Escort Twin-Cam. Este motor de 1601 cm3, que também era utilizado no modelo Cortina, debitava 160 cv às 7500 rpm. A caixa era de 4 velocidades e a tracção era traseira. O Escort era um carro fiável que os fãs adoravam ver devido às “atravessadelas” que o carro dava ao efectuar as curvas. Posteriormente, o Escort foi equipado com o motor BDA, sofrendo mais algumas actualizações. Em 1975 surgiu uma nova carroçaria, que ficou designado como MKII, que deu a conquista dos dois títulos mundiais em 1979. Este novo Escort esteve ao serviço da Ford até meados da década de 80. Ainda no inicio dos anos 80, a Ford chegou a ter programado o lançamento de uma terceira geração do Escort, contudo este projecto acabou por ser anulado: a sua designação era Ford Escort RS1700 Turbo. No pico da era dos Grupo B, a Ford apostou no lançamento do Ford RS200 para os ralis mas o fim abrupto dos carros do Grupo B no final do ano de 1986 levou a Ford a diminuir significativamente a sua actividade nos ralis nos anos seguintes. Durante algum tempo foi utilizado o Ford Sierra Cosworth. Em 1993 ressurgiu o nome Escort e a Ford apostava forte nos ralis e na conquista dos títulos. Primeiro surgiu o Ford Escort Cosworth do Grupo A e posteriormente o Ford Escort WRC. A Ford não voltou a conseguir conquistar os títulos com o Escort mas quando o Focus o substituiu, em 1999, o Escort tinha vencido 34 ralis do mundial. Sem dúvida, um belo currículo.
A miniatura representa o Ford Escort Twin-Cam de Jean-François Piot e Jean Todt (ambos franceses) no Rali de Monte-Carlo de 1969.
Importa referir que em 1969 as instâncias superiores que regulamentavam os ralis não permitiam que os carros dos Grupos 4, 5 e 6 pontuassem nas provas do Campeonato da Europa (na época não havia Campeonato do Mundo), o que quer dizer que apenas pontuavam os carros do Grupo 1, 2 e 3. Assim os organizadores do Rali de Monte-Carlo resolveram criar o Rali Méditerranée que seria realizado em paralelo com a prova monegasca. Desta forma não se excluíram os carros dos Grupos 4, 5 e 6, o que permitiu reunir uma lista de inscritos de fazer inveja, senão veja-se: com os Porsche 911S do Grupo 3 estavam Gérard Larrousse (francês), Bjorn Waldegaard (sueco), Pauli Toivonen (finlandês) e Vic Elford (francês); com os Alpine-Renault do Grupo 4 estavam os franceses Jean-Claude Andruet, Jean Vinatier, Jorma Lusenius e Jean-Pierre Nicolas enquanto Jean-Luc Thérier pilotava um Renault R8 Gordini do Grupo 1; os Ford Escort estavam ao serviço de Hannu Mikkola (finlandês), Ove Andersson (sueco) e Jean-François Piot (francês); com os Lancia Fulvia 1300 tínhamos nomes como Pat Moss, Tony Fall (ambos ingleses) e Rauno Aaltonen (finlandês) e com o Fulvia 1600 estavam Sandro Munari (italiano) e o sueco Harry Kallstrom; Timo Makinen (finlandês) surgia num BMW 2002 TI do Grupo 2, Simo Lampinen (finlandês) utilizava um Saab Sonett V4 enquanto com os Matra 530 apareciam 3 franceses de renome: Jean-Pierre Beltoise, Henri Pescarolo e Jean-Pierre Jabouille. Isto só para mencionar os nomes mais sonantes. Verdadeiramente notável!
Nesta época o Rali de Monte-Carlo era disputado de uma forma completamente da actual: os concorrentes partiam de várias partes da Europa (Lisboa, Reims, Frankfurt, Mónaco…) tendo de percorrer um percurso com mais de 3000 km até ao ponto de concentração. Percorriam em estradas abertas ao trânsito com o objectivo de não sofrerem penalizações. Posteriormente havia um percurso que era comum a todos os participantes. No final o vencedor era aquele que somasse o menor número de pontos. A prova resumiu-se rapidamente a um duelo pelo primeiro lugar entre o Ford Escort de Mikkola e o Porsche de Waldegaard. No caso de Piot, a efectuar a sua primeira prova com o Escort, a sua prestação foi prudente mantendo-se sempre entre os dez primeiros classificados enquanto que vários pilotos de renome foram abandonado: Andruet, Aaltonen, Fall e Andersson. Mais tarde na prova, Hannu Mikkola sofreu uma saída de estrada e atrasou-se significativamente, deixando Piot como o melhor Ford Escort. Mesmo no percurso mais difícil do rali Jean-Pierre Piot foi mostrando as suas qualidades de excelente piloto e nem mesmo quando sentiu alguns problemas com os pneus do Escort deixou de lutar pela melhor classificação possível. No final da prova conseguiu um excelente 4º lugar. A vitória, essa, foi para o Porsche 911S de Bjorn Waldegaard, seguido pelo seu companheiro de equipa, Gérard Larrousse.
NOTA: ler o anterior post sobre Jean-François Piot